Descobrir que uma amiga está grávida é um dos momentos mais felizes e, ao mesmo tempo, pode ser tão doloroso quando estamos a tentar realizar o mesmo sonho, sem sucesso.
A Internet tornou as nossas vidas mais públicas, abertas e vigiadas, mas mesmo assim dá-nos uma possibilidade ótima de podermos divagar pelos pensamentos num pequenino anonimato, sem deprimir ou preocupar os que estão à nossa volta.
Porque às vezes, tudo o que precisamos é escrever, deitar para fora o que nos perturba ou ler algo que nos ressoe também na alma. Essa sensação de pertença, de sermos vistos ou de partilha de experiências ajuda por vezes a aligeirar o nosso próprio caminho.
As amigas
É engraçado, mas quando decidimos começar a tentar engravidar e acabámos por comentar com alguns amigos mais próximos, mais ninguém estava a tentar naquele momento, só começaram algum tempo depois.
E até foi bom poder ir falando de algumas coisas com as amigas, partilhando ideias, preocupações e cuidados. O ser humano gosta de ter companhia em certas situações.
No entanto, confesso que não estava preparada para o que se seguia.
O primeiro choque
Como já estava em tentativas há algum tempo, uma sementinha de desânimo morava já no meu espírito, até que chegou o dia em que uma das minhas amigas me contou que tinha acabado de descobrir que estava grávida.
Foi um misto de emoções, fiquei muito feliz por eles, mesmo muito, mas ao mesmo tempo, não consegui deixar de sentir uma pequenina mágoa por não estar a viver ainda essa experiência.
Falámos sobre isso, ficámos as duas emocionadas, principalmente porque ela percebia o que me ia no coração, mas relativizei e disse algo como “olha, preparas tu o caminho e em breve sou eu”.
Mas o bichinho de também querer viver o mesmo, manifesta-se sempre na nossa cabeça e muda-se para o mesmo espaço que desânimo.
Um mundo de bebés
A vida seguiu, continuei feliz por poder participar na felicidade de alguém de quem eu gosto muito. Até que um novo golpe atinge aquele bichinho.
Com pouco tempo de intervalo, foi outro casal amigo a dizer-nos que estava à espera de bebé… e aí sim, senti como se tivesse levado um murro no estômago e consegui por pouco dissimular a minha própria tristeza.
Com o passar do tempo, vamos acumulando alguns sentimentos menos positivos e desilusões, mas são tão pequeninos que nem sentimos necessidade de partilhar, até que chega um momento em que tudo se junta numa só bola que nos oprime o peito.
Para mim, foi esse momento.
Felicitei, mostrei-me feliz e brinquei com a situação. Estávamos na rua, numa praceta, deixei-me ficar um pouco para trás à medida que íamos caminhando para perto dos carros, a absorver a informação e a lidar com o turbilhão de sentimentos, mas houve alguém que leu nos meus olhos e ficou para trás comigo.
A minha outra amiga, que me tinha contado uns tempos antes. Chegou ao pé de mim, abraçou-me e perguntou-me como é que eu estava. Só me lembro de ter ficado com os olhos em lágrimas e ter dito algo como “fico feliz por todos vocês, tu sabes, mas porque é que não sou eu? Porque é que eu não consigo?”
Foram apenas uns instantes, porque não quis de maneira nenhuma estragar aquele momento aos meus amigos, não quis que se apercebessem.
Aquele foi de certeza um dia muito feliz para esse casal amigo, mas para nós os dois, foi um dia complicado no turbilhão de sentimentos. Quando eu e o meu marido entrámos em casa no final do dia, olhámos um para o outro e sentimos a mesma dor, abraçámo-nos e beijámo-nos, assegurando um ao outro que o nosso dia vai chegar em breve.
Mas a espera prolonga-se e parece que de repente o mundo atraí bebés à nossa volta. Colegas de trabalho contam que estão grávidas ou que as mulheres estão grávidas, mais um ou outro casal amigo ou familiares.
Felicidade agridoce
Não vou estar com floreados, vou ser honesta. Dói. Sentimos tristeza porque não somos nós.
E o pior, é que depois desse momento de dor, vem uma certa vergonha e mau estar por sentir algo assim, que foi inadvertidamente desencadeado por uma alegria para as pessoas que amamos.
Todos temos momentos em que somos forçados a enfrentar as nossas próprias expectativas quanto a um emprego de sonho, uma relação, ou, no meu caso, a gravidez. A aceitação de que os nossos tempos não podem ser medidos em comparação ao dos outros, isso é algo que nem sempre é fácil.
É complicado e uma verdadeira aprendizagem conseguir navegar neste turbilhão de sentimentos, onde se distribuem abraços com um sorriso nos lábios, porém isso não significa que o sorriso seja falso, apenas é complexo.
A tristeza não anula a esperança, então podemos continuar a acreditar.
Quando estive internada na MAC durante a gravidez (para fazer uma cerclage), uma das mães que lá estava estava grávida de um bebé de IVF (tentavam há 10 anos e finalmente tinham conseguido; aquele era o único óvulo que tinha resultado, a única esperança e ela estava ali por risco de parto prematuro, tal como eu, mas numa situação bem pior). Ele nasceu bem e está tudo bem agora, mas lembro-me de olhar para ela e admirá-la muito. E espero que também tenhas um final feliz.
Obrigada pela partilha e pelas tuas palavras 🩷
Foram 10 dedicados a esse sonho, mas para mim já não vai acontecer, talvez noutra vida, quem sabe.
O desgaste e o turbilhão de emoções foi imenso e quase me destruiu... até que recentemente passei por uma espécie de luto que me permitiu aceitar e ser feliz sem essa possibilidade.
De toda esta situação ficou uma certeza, encontrei o meu companheiro para a vida, mesmo que os nossos sonhos tivessem de se moldar mais do que ambos pensámos.